Governo abre concurso para 418 camas de cuidados continuados na região Centro

O Governo abriu as candidaturas ao concurso para 418 camas de cuidados continuados e paliativos na região Centro.

As candidaturas decorrem até dia 20 de outubro e o investimento nas camas agora anunciadas ascende a 17,6 milhões de euros, referiu o Ministério de Saúde.

Este aviso do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) é o primeiro no âmbito do investimento na Rede Nacional de Cuidados Continuados e Integrados e da Rede Nacional de Cuidados Paliativos, proporcionando candidaturas do setor social e privado.

Ao todo estão previstas 120 camas em unidade de convalescença, 200 camas em unidade de longa duração e manutenção, e 98 em unidade de cuidados paliativos de menor complexidade, isto é, que funcionam fora de unidades hospitalares.

Este investimento visa “melhorar a cobertura territorial na área dos cuidados continuados e paliativos, assegurando a igualdade de acesso a serviços de qualidade tanto nos períodos de convalescença como em casos em que é preciso um apoio mais prolongado”.

Nos próximos dias vão ser publicados mais avisos que têm como objetivo “reforçar a resposta da região Centro”, designadamente com a criação de camas em Unidades de Dia e Promoção de Autonomia, de camas de saúde mental da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados e para as equipas de apoio domiciliário de saúde mental.

De acordo com o Ministério da Saúde, vão ser ainda abertos avisos em todas as categorias para as restantes regiões do país, num financiamento total de mais de 272 milhões de euros.

“O PRR vai permitir alargar e consolidar o investimento que o Governo tem feito nos últimos anos e que permitiu o desenvolvimento das respostas tanto ao nível dos cuidados continuados como dos cuidados paliativos”.

O principal propósito desta reforma é “assegurar um acesso equitativo e em tempo útil a cuidados de qualidade e próximos dos cidadãos”.

Em simultâneo, estes investimentos permitem “aumentar a coesão social, com impacto positivo também a nível ambiental”, visto que as novas construções e reabilitações cumprem várias exigências em termos de eficiência energética.

O financiamento das novas camas foi aumentado em 40 por cento em junho, passando de 30 mil euros para 42 mil euros.

O Governo decidiu subir este valor para “responder ao aumento dos preços das matérias-primas e da mão de obra”, especialmente no que respeita ao setor da construção, que ocorreu em resultado da crise global da energia e da guerra na Ucrânia.

A nível nacional, a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados vai ser reforçada com 5 500 lugares de internamento até 2025, passando de 9 552 camas para cerca de 15 mil, o que representa um aumento superior a 55 por cento.

HDS participa em projeto que usa tecnologia para criar valor em saúde

O Hospital Distrital de Santarém (HDS) faz parte de um projeto inovador no âmbito da ‘Agenda Mobilizadora Health from Portugal’, financiada pelo Plano de Recuperação e Resiliência, desenvolvido em conjunto com outras cinco instituições de saúde em Portugal e duas empresas de tecnologias de informação.

O projeto, com um valor total de 173 321,10 euros, envolve o desenvolvimento e teste de uma solução tecnológica baseada na criação de valor em saúde, centrada no doente e na sua condição clínica. No HDS, o projeto será no âmbito do Tratamento Cirúrgico da Obesidade e das Cataratas.

De acordo com o HDS, pretende-se que a plataforma promova a integração e organização dos dados hospitalares em torno das condições clínicas selecionadas e permita aos gestores e equipas clínicas visualizar e analisar o percurso clínico do doente dentro do hospital, os custos associados e os resultados reportados pelos clínicos.

Esta solução tecnológica tornará possível ainda criar um ecossistema de melhoria e aprendizagem contínua, a partir da qual instituições de saúde nacionais e internacionais podem comparar os seus resultados por condição clínica e população alvo, no sentido de melhorar e/ou tornar mais eficientes os cuidados de saúde prestados.

A ‘Agenda Mobilizadora Health from Portugal’, com 88 parceiros, tem como objetivos a conceção, desenvolvimento e produção de soluções tecnológicas inovadoras dirigidas aos mercados de saúde, nacionais e internacionais, posicionando Portugal com uma referência mundial no setor.

CHTMAD implementa projeto de Via Verde do Sono

O Laboratório do Sono do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD) implementou, este mês, a “Via Verde do Sono”, um projeto em conjunto com o Agrupamento de Centros de Saúde – Marão Douro Norte.

Este projeto visa reduzir o tempo de espera entre o diagnóstico e o tratamento dos distúrbios do sono.

De acordo com comunicado do CHTMAD, com esta articulação entre as duas instituições de saúde é possível reduzir, para um mês, o tempo de espera desde o envio do centro de saúde até ao tratamento no hospital, para casos prioritários.

“Neste momento, a patologia do sono constitui a principal causa de referenciação de doentes para a pneumologia”, referiu a diretora do Serviço de Pneumologia, Ana Loureiro.

A médica especialista em sono Bebiana Conde acrescentou que “esta patologia é a que mais recursos consome, dada a elevada procura de consultas e exames, e pela extensa relação com várias comorbilidades: obesidade, patologia cardiovascular e doenças metabólicas como a diabetes, que permanecendo sem tratamento, aumentam o risco de complicações cardiovasculares em mais de 50 por cento”.

Nesta fase inicial, serão realizadas quatro primeiras consultas por semana. O “doente vem para o hospital já com o exame feito nos cuidados primários, é validado por nós na consulta, e inicia tratamento de imediato”, explicou Bebiana Conde.

A médica assegura que este serviço, desde há vários anos, “proporciona intervenções formativas na sociedade civil e científica, através de campanhas de sensibilização na sociedade, formações, como irá acontecer nos próximos meses, através de um curso sobre a abordagem multidisciplinar da patologia do sono, um desafio encetado pela Secção Regional de Vila Real da Ordem dos Médicos, que tem como objetivo o aumento da literacia do sono na região”.

Apesar de o diagnóstico e tratamento da patologia do sono significarem um enorme custo, se os mesmos forem realizados de forma precoce e eficaz, obtêm-se ganhos imediatos e a longo prazo, em saúde.

A patologia do sono, que compreende a patologia obstrutiva do sono, insónias, parassónias, alterações do ritmo circadiano, aliadas à ansiedade, sedentarismo, stress, maus hábitos de alimentação, compromete significativamente a qualidade de vida.

“É importante incentivar a população para as medidas globais, ou seja, prática de exercício físico, alimentação equilibrada, boa higiene do sono, de forma a reduzir este tipo de doenças; e, também, no caso de já existirem, serem diagnosticadas precocemente e tratadas de forma adequada”, concluiu Bebiana Conde.

HFF é o primeiro hospital com certificação da qualidade na transplantação

O Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca (HFF) tornou-se pioneiro em Portugal com o reconhecimento da qualidade das suas práticas nas áreas de doação e colheita de órgãos e tecidos para transplantação, pela certificação da qualidade pela norma internacional ISO 9001.

Esta certificação da qualidade foi alcançada para os processos de doação e colheita de órgãos em dadores em morte cerebral e para a doação e colheita de córneas em dadores de coração parado, tendo resultado do trabalho empreendido pelo Núcleo de Coordenação Hospitalar de Doação (NCHD) do HFF, uma equipa multidisciplinar formada por seis médicos, dois enfermeiros e um técnico operacional, todos com formação específica e continuada nesta área.

Com diversas iniciativas pioneiras para o aumento do número de órgãos colhidos para transplantação, a ferramenta informática “DonorNow” sinaliza de imediato um possível dador, alertando as equipas responsáveis.

Esta ferramenta informática destina-se à “sinalização automática de ‘catástrofes neurológicas’ através dos exames de Tomografia Computorizada realizados no HFF; o sistema de sinalização de óbitos no serviço de Anatomia Patológica; a participação na elaboração do Registo Português de Transplantação, em parceria com o Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST), para além da apresentação de diversos trabalhos em reuniões científicas, cursos e ações de divulgação junto de escolas secundárias”.

De acordo com o HFF, o desenvolvimento e consolidação dos processos de doação e colheita permitiram implementar programas de transplante de córneas pelo Serviço de Oftalmologia do HFF, bem como de aplicação de tecido osteotendinoso pelo Serviço de Ortopedia, atividades todas elas também devidamente autorizadas pelo IPST e certificadas pelo programa da qualidade da Direção Geral da Saúde.

Em 2022, o Serviço Nacional de Saúde realizou 814 transplantes de órgãos. Foram, de acordo com as estatísticas do IPST, realizados mais 15 transplantes do que em 2021.

Já nos primeiros seis meses de 2023 foram transplantados em Portugal 498 órgãos, um novo recorde da década, ultrapassando o anterior máximo registado nos primeiros seis meses de 2016, que foram 476.

Hospital de Braga vai iniciar tratamentos à Paramiloidose

O Hospital de Braga vai começar a realizar tratamentos aos doentes com Paramiloidose, conhecida como a doença dos pezinhos, a partir de outubro de 2023, no Hospital de Dia Médico.

No âmbito do Protocolo estabelecido entre o Hospital de Braga e o Centro Hospitalar Universitário de Santo António (CHUdSA), os doentes com esta patologia, que residem na área abrangente do Hospital de Braga, poderão realizar os seus tratamentos mais perto de casa, evitando fazer centenas de quilómetros de três em três semanas.

“Este processo de transição dos utentes para o Hospital de Braga é um cenário bastante positivo para todos: evita que o utente tenha de se deslocar muito além da sua zona de residência, e liberta os serviços dos principais centros de referência nacional, que dão resposta a esta patologia, o CHUdSA e o CHULN”, referiu a diretora Clínica do Hospital de Braga, Paula Vaz Marques.

Com o compromisso de prestar cuidados de excelência e proximidade a todos os utentes, o Hospital de Braga iniciará a administração da medicação endovenosa a 18 doentes, no Hospital de Dia Médico. As consultas de acompanhamento continuam a ser realizadas no CHUdSA.

Tratamento inovador alivia totalmente sintomas da HBP

Os hospitais CUF Descobertas e CUF Tejo passaram a disponibilizar o tratamento da Hiperplasia Benigna da Próstata (HBP) com o sistema robótico Aquabeam.

De acordo com o comunicado divulgado pela CUF, este tratamento permite aliviar totalmente os sintomas obstrutivos provocados pela doença, preservar a função sexual e a continência urinária. “Esta terapia robótica, de alta precisão, guiada por imagem, permite tratar a HBP, independentemente do tamanho e forma da próstata”, explicitou.

A Aquablação é o mais recente tratamento da HBP que utiliza a tecnologia de jato de água de alta pressão, com uma precisão milimétrica, capaz de remover o excesso de tecido prostático que comprime a uretra e, consequentemente, acaba com os sintomas obstrutivos e irritativos do doente, como as dificuldades relacionadas com a micção.

O coordenador de Urologia do Hospital CUF Descobertas, Paulo Vale, destacou como grande vantagem deste tratamento “a possibilidade de ser utilizado em todos os tamanhos e formas de próstata, sem comprometer o estilo de vida, mantendo a continência urinária e a função sexual”.

Este procedimento “rápido, eficaz e muito seguro resulta da evolução positiva que a Urologia tem vindo a registar”, lê-se no mesmo comunicado.

De acordo com o médico urologista, “assistimos, nos últimos anos, ao aparecimento da técnica, minimamente invasiva, Rezum – também para o tratamento da HBP, com bons resultados em próstatas de menor volume. Agora, com a rapidez da evolução tecnológica, a Aquablação vem tratar cirurgicamente o problema em qualquer volume da próstata, permitindo resolver com cada vez maior qualidade e rapidez as queixas associadas ao aumento do volume da próstata”.

Para o tratamento da HBP existem várias abordagens, desde fármacos a cirurgias mais ou menos invasivas. “No entanto, os tratamentos convencionais cirúrgicos até agora utilizados – nomeadamente a cirurgia aberta, laparoscópica, ressecção endoscópica da próstata, laser ou enucleação – têm alguns efeitos secundários não desprezíveis, designadamente, alterações a nível da função urinária e sexual, que impactam a qualidade de vida dos doentes após o tratamento, para além de obrigarem a vários dias de internamento”, explicou Paulo Vale, reforçando que o tratamento por Aquablação “tem capacidade de preservar a continência urinária e a função sexual”.

O coordenador de Urologia CUF, Estevão Lima, acrescentou ainda que “este procedimento, controlado pelo cirurgião e realizado por um sistema robótico guiado por ecografia assegura, em tempo real, uma visão multidimensional da área de tratamento. Essa visibilidade permite personalizar a intervenção cirúrgica à anatomia de cada doente porque o tecido prostático a remover pelo robô, de forma automatizada, é delimitado com elevada precisão”.

Considerada uma das doenças benignas mais comuns nos homens, que se caracteriza por um aumento do volume da próstata, “a Hiperplasia Benigna da Próstata afeta um em cada dois homens entre 51 e os 60 anos e a prevalência aumenta com o decorrer do tempo”, alertou Estevão Lima.

SNS promove intercâmbio clínico na área do transplante pulmonar

O grupo King Abdulaziz Medical City-Central Region (KAMC), da Arábia Saudita, estabeleceu uma parceria com o Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central (CHULC) para intercâmbio clínico e científico na área do transplante pulmonar.

Ao abrigo do memorando de entendimento, iniciou-se, no passado dia 7 de agosto, um estágio observacional de duas semanas, que vai permitir a acreditação do programa de transplantação naquela unidade saudita.

A comitiva saudita, que se encontra a estagiar no Hospital de Santa Marta, em Lisboa, é composta por 11 profissionais, médicos e enfermeiros, e é liderada pelo enfermeiro João Dantas, que coordena o programa de transplantação cardíaca e pulmonar no KAMC.

Do lado português, os responsáveis pela parceria são os médicos do CHULC Luísa Semedo, coordenadora da Unidade de Transplante Pulmonar, e Paulo Calvinho, coordenador cirúrgico da mesma unidade.

CHMT bate record de recolha de órgãos para transplante

O Centro Hospitalar do Médio Tejo (CHMT) registou no primeiro semestre deste ano o maior número de órgãos recolhidos para transplantação, tendo colhido 19 órgãos de sete dadores, adiantou o CHMT em comunicado.

“A Unidade de Cuidados Intensivos do CHMT, através da sua equipa dedicada, esteve envolvida na doação de 19 órgãos vitais para transplantação, provenientes de sete dadores, nos seis primeiros meses do ano. Este resultado supera, em apenas um semestre, os cinco dadores e 12 órgãos que foram colhidos pelo CHMT durante todo o ano de 2022”, lê-se no comunicado do CHMT.

Segundo é referido na nota, aos números do primeiro semestre do ano acrescem já dois órgãos de um dador colhidos no início de julho.

Os números, defendeu o CHMT, demonstram “uma motivação e esforço acrescidos para mudar a vida de todos quantos a nível nacional necessitam de um transplante para poderem manter-se vivos, ou para melhorarem de forma muito significativa a sua saúde e qualidade de vida”.

O CHMT procede a recolha de órgãos para transplante há 14 anos, desde a abertura do serviço de Medicina Intensiva no Hospital de Abrantes, tendo desde então recolhido 209 órgãos de 89 dadores.

“Estes são resultados notáveis, acima da média nacional, que representam, em 2023, uma taxa média de 33,7 dadores por milhão de habitantes, contrastando com uma média nacional, calculada em dezembro 2022, de 30,8 colheitas por milhão de habitantes. Estes números são ainda mais impressionantes se refletirmos que são obtidos num hospital do interior do país, sem algumas das valências clínicas e dos meios tecnológicos disponíveis nos hospitais centrais”, salientou o centro hospitalar.

Na nota são citadas estatísticas do Instituto Português do Sangue e da Transplantação que indicam que em Portugal, em 2022, foram realizados um total de 835 transplantes de órgãos, mais 36 do que em 2021, “revelando um esforço de recuperação das equipas de profissionais de saúde face à inevitável redução provocada pela pandemia” de covid-19.

Também no ano passado, “foi alcançado o maior número de sempre de pulmões transplantados”, é ainda referido.

IA pode ajudar radiologistas no rastreio do cancro de mama

Um software de Inteligência Artificial (IA) pode ser capaz de reduzir a carga de trabalho dos radiologistas no rastreio do cancro da mama, de acordo com os primeiros dados de um estudo agora divulgado.

Esta investigação, realizada na Suécia e publicada no Lancet Oncology, permitiu, sobretudo, concluir que não há risco para os radiologistas utilizarem softwares de IA para melhor direcionarem as suas análises, noticiou a agência France-Presse (AFP).

Os cientistas dividiram cerca de 80 mil mulheres em dois grupos de tamanho semelhante.

Todas realizaram mamografia, mas o primeiro grupo foi rastreado da maneira clássica, ou seja, com o olhar de dois radiologistas independentes, enquanto os dados do segundo foram examinados primeiro por IA e depois por um único radiologista.

No final, o grupo assistido por IA não teve pior desempenho e até foi detetado um maior número de casos de cancro.

A taxa de “falsos positivos”, ou seja, casos em que o primeiro exame regista erroneamente suspeita de cancro, foi semelhante.

Como é necessário apenas um radiologista no procedimento envolvendo IA, o uso desta tecnologia pode acabar por reduzir para metade a carga de trabalho desses médicos.

Estes resultados são promissores porque o rastreio é amplamente considerado uma das principais formas de combate ao cancro da mama.

No entanto, é ainda muito cedo para concluir sobre o real interesse da IA neste campo e serão necessários vários anos de análise para saber se esta ferramenta pode ser tão eficaz como uma dupla opinião humana.

Para fazer isso, os investigadores irão comparar em dois anos a taxa de cancro que escaparam da triagem, mas que foram diagnosticados posteriormente.

Os dados iniciais do estudo também deixam margem para incertezas sobre o risco de ‘sobrediagnóstico’, ou seja, de identificar lesões que não teriam evoluído para cancros perigosos sem tratamento.

Esta temática do ‘sobrediagnóstico’ está no centro de algumas críticas aos méritos do rastreamento generalizado, ainda que os estudos confirmem cada vez mais claramente o seu interesse para a redução do cancro da mama.

O risco de ‘sobrediagnóstico’ deve “encorajar cautela na interpretação dos resultados”, alertou o oncologista Nereo Segnan, da Lancet Oncology, que não participou no estudo, num comentário à investigação.

Nereo Segnan reconheceu, no entanto, a natureza promissora do trabalho realizado com IA.

Investigação identifica nove biomarcadores da dor

Um estudo feito entre setembro de 2020 e setembro de 2022, em Vila Nova de Gaia, conseguiu, através da colheita de sangue a doentes com demência, identificar nove biomarcadores da dor, revelou o investigador Hugo Ribeiro.

“Os resultados alcançados permitem uma abordagem individualizada e muito mais eficiente do que tem sido feito até aos nossos dias, em que dependemos do autorrelato do doente para podermos introduzir as terapêuticas necessárias ao controlo da dor”, acrescentou o especialista à agência Lusa.

O estudo, realizado por uma equipa de investigadores das faculdades de Medicina do Porto e de Coimbra, abrangeu 53 doentes com demência e identificou seis biomarcadores nas plaquetas e três nos monócitos, disse.

Para além de Hugo Ribeiro participaram o professor catedrático da FMUP, José Paulo Andrade e seis investigadores da faculdade em Coimbra, Marília Dourado, Ana Bela Sarmento Ribeiro, Manuel Teixeira Veríssimo, Ana Cristina Gonçalves, Joana Jorge e Raquel Alves.

Na informação enviada à Lusa lê-se que “cerca de 40 por cento da população portuguesa sofre de dor crónica, sendo que nos idosos esta proporção será de 70 a 80 por cento, e num terço a metade dos casos a dor estará mal controlada, prejudicando a vida destes vários milhões de doentes e das suas famílias”.

“São números com significado estatístico, que nos dão uma grande evidência e que conjugado com o número grande de biomarcadores aumenta a probabilidade de, no cruzamento de dados, conseguimos ter um padrão associado a diferentes tipos de dor e da própria intensidade de dor”, acrescentou.

Este estudo foi realizado com doentes seguidos pela Equipa Comunitária de Suporte em Cuidados Paliativos do Agrupamento de Centros de Saúde de Gaia nos quais a identificação e caracterização da dor é muitas vezes difícil, prejudicando a abordagem farmacológica mais adequada, assinalou Hugo Ribeiro.

“Não existem estudos desta natureza a nível mundial. É o maior estudo jamais feito com pessoas que não podem caracterizar a sua própria dor e o único que aborda este tipo de biomarcadores periféricos”, assinalou o investigador.

E prosseguiu: “há outros dois ou três estudos, publicados entretanto, que têm entre 10 e 20 doentes como amostra e que abordam dois ou três biomarcadores específicos, enquanto nós abordámos dezenas de biomarcadores relacionados com as plaquetas e com os monócitos”.

A investigação feita em Vila Nova de Gaia contou com “53 doentes finais de um grupo de 95 selecionados”, disse o médico, ciente de que “caso se confirmem os biomarcadores identificados, trata-se de um enorme passo na medicina da dor e nos cuidados geriátricos e paliativos, permitindo uma abordagem farmacológica dirigida e mais eficiente.

Do estudo foram produzidos dois artigos, tendo sido o primeiro publicado em janeiro onde “foram identificados biomarcadores plaquetares para a identificação da presença de dor (CD36, CD49f, CD61 e CD62p), assim como para a dor moderada-severa (CD40)”, lê-se na mesma nota.

O segundo, publicado no final de junho, explica que “os monócitos foram identificados como potenciais biomarcadores periféricos da presença de dor, e algumas das suas proteínas membranares foram identificadas como potenciais biomarcadores da caracterização da dor (CD11c para dor mista; CD163 e CD206 para dor nociceptiva)”, continua o documento.

O professor catedrático José Paulo Andrade explicou que “os doentes com demência, seja Alzheimer ou semelhantes, têm dor, não a conseguem nem identificar nem caracterizar e a caracterização é muito importante para a sua terapêutica”.

“Este foi o primeiro passo até conseguimos fazer a caracterização da dor através das proteínas que encontrámos em componentes do sangue periférico”, assinalou o docente da FMUP e que também participou no estudo.