Catástrofes: que cuidados a ter na Saúde?

No rescaldo do apagão, a Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde (SPLS) organizou, a 5 de maio, um webinar sobre Recomendações para a Saúde em Momentos de Crise. Intervenientes reforçam importância da comunicação eficaz

 

“Qualquer situação de catástrofe é uma coisa iminente e certa – vai acontecer.” O aviso partiu de Filipe Serralva, diretor clínico da Associação Nacional de Emergência, Socorro e Catástrofe (ANESC). O clínico identificou a comunicação como o principal problema do apagão, à semelhança do que, afirma, acontece “em todos os simulacros”.

Filipe Serralva aconselha as pessoas a ter um kit de emergência para 72 horas e que haja a preocupação de treinar planos de emergência em contexto familiar, além de tornar a preparação para a emergência uma parte do currículo escolar.

O médico frisou ainda a importância de criarmos a capacidade de imaginar que tipo de situação de emergência podemos vir a enfrentar, de acordo com a nossa experiência. E antes de mais, importa garantir que continuamos a assegurar a comunicação, privilegiando aqui os rádios transistorizados e das viaturas pela sua autonomia da rede elétrica. Importa também assegurar que somos vistos, ou seja, ter lanternas, e garantir meios de acender fogueiras e cozinhar. Além disso, recomenda também que haja um kit com pilhas suplentes, fósforos, isqueiros e power banks, para mantermos os dispositivos o máximo de tempo a funcionar. Importa também ter água, para o caso de haver falhas, nomeadamente em caso de ameaça química ou radiológica. Ter água armazenada para 72 horas que permita que cada pessoa tenha 5 litros por dia é a recomendação. Relativamente à alimentação, alimentos enlatados e liofilizados e barras energéticas devem estar na lista, assim como um kit de primeiros socorros com tesouras, material de desinfeção, pensos, ligaduras e manta térmica para o caso de sismo ou outra situação em que haja feridos. Por último, Filipe Serralva aconselha os cidadãos a terem os documentos físicos plastificados e a guardarem-nos também em formato digital, para facilitar eventuais diligências em meio hospitalar.

Também para o psiquiatra Pedro Morgado a comunicação é essencial e “não correu assim tão bem”. O médico sublinhou que, ainda que não se soubesse a causa do sucedido, teria sido importante enviar mensagens de tranquilização à população.

Do lado dos cidadãos, Pedro Morgado considera importante focarmo-nos no que é possível fazer no imediato e não no longo prazo, até porque as hipóteses mais catastróficas acabam normalmente por não se verificar, como foi o caso. O foco deve, assim, ser transferido para os que nos são mais próximos e para a manutenção do autocuidado, que inclui a capacidade de conversar sobre a ansiedade.

Rosário Lourenço, da Comissão Executiva da Associação Nacional de Farmácias, detalhou o tipo de medicamentos a considerar num kit de emergência: analgésicos e antipiréticos para dores moderadas, um termómetro, anti-inflamatórios, anti-histamínicos, anti-diarreicos, soluções de reidratação oral e material para pequenas feridas – antissépticos, compressas e soro. Importa também garantir a continuidade da medicação de idosos e doentes crónicos através de uma reserva mínima para 15 a 30 dias, assim como manter uma lista das doses e horários das tomas. Importa também manter cópias das prescrições para casos de deslocação ou perda de material. A responsável aconselha também que se verifique periodicamente o prazo de validade dos medicamentos e que se tenha também produtos de higiene (toalhetes, sabonete, pasta de dentes, solução alcoólica) para evitar complicações mais graves de saúde em caso de falta de água.

 

FOTO: Henning_W

Escherichia coli foi a causa mais comum de infeção associada aos cuidados de saúde em lares europeus em 2023-24

A propósito do Dia Mundial da Higiene das Mãos, que se assinala hoje, o European Centre for Disease Control (ECDC) divulgou que 3,1 % dos residentes em lares e unidades de cuidados continuados tinham pelo menos uma infeção associada aos cuidados de saúde em 2023-2024

 

O estudo “Point prevalence survey of healthcare-associated infections and antimicrobial use in European long-term care facilities” aponta sérias lacunas nas medidas de prevenção e controlo da infeção e também na vigilância antimicrobiana, precisamente nas instituições que acolhem as pessoas mais vulneráveis.

As infeções do trato urinário, do trato respiratório e da pele foram as mais comuns. A Escherichia coli foi o microrganismo detetado com mais frequência, seguido do SARS-CoV-2, seguido da Klebsiella pneumoniae e Staphylococcus aureus. Ainda assim, apenas uma em cada cinco IACS foi confirmada microbiologicamente, o que motivou preocupações relativas a um possível subdiagnóstico e tratamento sem evidência definitiva.

Mais de 4 % dos residentes nestas unidades estavam a tomar pelo menos um antimicrobiano à data do inquérito, com cerca de um terço das prescrições a serem passadas por razões profiláticas. As infeções do trato urinário foram a principal indicação para tratamento e uso profilático.

Apesar de quase todas as unidades terem protocolos para a higiene das mãos, uma em cada cinco não tinha os respetivos funcionários formados em prevenção e controlo. Menos de metade tinha um comité de prevenção e control da infeção, e cerca de 40 % não tinha componentes de programas de vigilância antimicrobiana. Além disso, menos de uma em cada dez das unidades avaliadas proporciona formação em práticas de prescrição de antibióticos.

Quatro em cada cinco unidades reportaram usar soluções de base alcoólica como método primário para a hygiene das mãos, enquanto uma em cada cinco recorrem essencialmente à higienização com água e sabão. Quase um terço das instalações não tinham sistemas regulares de monitorização da higiene das mãos e respetivo feedback.

Perante estas conclusões, o ECDC pede às autoridades que reforcem as medidas de prevenção e control da infeção através de formação ao pessoal, alocação de recursos adicionais, melhoria da vigilância e promoção de guidelines claras e maior consciencialização. Também se apela ao estabelecimento da desinfeção das mãos com solução de base alcoólica como método primário para a hygiene das mãos, e à melhoria das práticas de prescrição através do foco em racionalização do uso profilático.

Este estudo foi conduzido em 1097 instituições de 16 países da União Europeia mais a Noruega e a Islândia. Em Portugal, os dados foram colhidos entre abril e junho de 2024.

 

FOTO: sarcifilippo / pixabay

Alto Alentejo: aberto concurso para a aquisição de equipamentos médicos

A ULS do Alto Alentejo abriu um concurso público tendo em vista a aquisição de equipamentos médicos para a nova unidade de Cuidados Intensivos

 

O contrato tem um valor base de 730 mil euros, com um prazo de execução de 30 dias, sem renovação.

As propostas devem ser apresentadas até 21 de maio. Após essa data, os participantes deverão manter as respetivas propostas por mais 180 dias. O critério de adjudicação é a qualidade/preço, tendo o preço uma preponderância de 70 %.

 

FOTO: vitalworks / pixabay

Assinados 90 contratos para alargar rede de cuidados continuados integrados

O Ministério da Saúde e o Ministério da Coesão Territorial assinaram 90 contratos de financiamento, no valor de 88 milhões de euros, com os setores privado e social, que vão criar mais 3.300 lugares na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI)

A informação avançada pelo portal do SNS adianta tratar-se de um projeto financiado no âmbito do PRR, que vai permitir a criação de mais camas de cuidados continuados, camas de saúde mental e respostas domiciliárias.

De acordo com a informação prestada pela Secretária de Estado da Gestão da Saúde, Cristina Vaz Tomé, há ainda “espaço para abrir mais candidaturas e, portanto, vamos tentar, junto de operadores que têm capacidade para dar essa resposta na região de Lisboa e Vale do Tejo”.

Acordo de resposta a pandemias reúne consenso preliminar

Depois de três anos de intensas negociações, os estados-membros da Organização Mundial da Saúde (OMS) chegaram, a 16 de abril, a um consenso sobre uma proposta de acordo que reforça a colaboração na prevenção, preparação e resposta a futuras ameaças pandémicas

Para o diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, fez-se história, com um acordo que demonstra que ainda é possível trabalhar em conjunto.

Em dezembro de 2021, no auge da pandemia de Covid-19, os Estados-membros da OMS estabeleceram o Órgão Intergovernamental de Negociação, INB, para redigir e negociar uma convenção, acordo ou outro instrumento internacional, nos termos da Constituição da OMS, para melhorar a forma de fazer face a pandemias.

As medidas acordadas envolvem diversificar geograficamente capacidades de pesquisa e desenvolvimento; facilitar a transferência de tecnologia para a produção de vacinas, diagnósticos e medicamentos; criar um mecanismo financeiro e estabelecer uma cadeia de abastecimento global e uma rede logística.

Citada pelo portal UN News, a co-presidente do Órgão Intergovernamental de Negociação, Precious Matsoso, reconheceu a dificuldade das negociações, mas saudou o consenso de que “os vírus não respeitam fronteiras e que ninguém está a salvo de pandemias até que todos estejam seguros”.

Também a Comissão Europeia saudou o consenso preliminar, classificando-o como “um passo decisivo em direção a uma abordagem global mais equitativa e proativa para prevenir e gerir futuras pandemias”.